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Revendo minhas atitudes

>> quinta-feira, 17 de março de 2005

Minha mãe foi pra Kumamoto na missa do meu avô. Queria ir junto mas no meu estado isso é impossí­vel.
Fiquei aqui sozinha pensando no meu relacionamento com ela. E comecei a chorar. Há um tempo atrás li uma história que me identifiquei demais. Apesar da situação em si ser diferente, a relação era a mesma.

Trezentos e sessenta e cinco dias

De acordo com meus amigos, sou uma pessoa segura e educada, razoavelmente inteligente, organizada e criativa. Mas, na maior parte da minha vida adulta, por quatorze dias em cada ano, eu me sentia como se não tivesse nenhuma dessas qualidades. E o pior é que isso acontecia quando meus pais - que moravam a dois mil quilômetros de distância durante trezentos e cinqüenta e um dias do ano - vinham me visitar. Em todos os outros dias eu levava minha vida muito bem, como esposa, mãe, executiva e fazendo meu trabalho voluntário. Mas a visita deles era uma verdadeira tortura para mim.
Essa é uma história muito antiga. Como filha mais velha, tinham sido colocadas muitas expectativas de sucessos e responsabilidade sobre mim. E a minha sensação era que, por mais que eu fizesse, nunca correspondia a elas. O fato de ter ido morar longe, com um marido que me amava do jeito que eu era, trouxera uma grande libertação. Mas bastava que meus pais - meu pai sobretudo - se aproximassem para acordar a menininha intimidada que persistia em existir dentro de mim. Eu me sentia ressentida com eles por ainda terem o poder de me fazer sentir insegura e incompetente.
Não era apenas eu que sofria durante as visitas dos meus pais - todos à minha volta sofriam também. Com certeza meu querido marido - estamos casados há trinta anos - sofria comigo. Nas semanas anteriores à visita, eu limpava a casa, infernizava meu marido para consertar tudo que estivesse quebrado, comprava novas cortinas, travesseiros e lençóis. Planejava refeições finas, enchia o congelador de comida e ficava atrás dos meus filhos para arrumarem os quartos, terem bons modos, falarem em voz baixa. Durante a visita havia sempre uma aura de tensão ao meu redor, como um véu diáfano (talvez fosse mais como um cobertor de lã molhado!). Depois da visita seguiam-se noites de discussões com meu marido. Eu ficava tentando decifrar o que meu pai dissera ou não dissera. E chorava muitas vezes, sentindo-me uma criança rejeitada e exausta. Em trinta anos de casamento houve vários altos e baixos, mas a prova real do amor de Dave era me ajudar a sobreviver a essas visitas!
Um dia, uma amiga me convidou para participar de um grupo de espiritualidade e um mundo novo se abriu para mim. Passei a ler sobre o assunto e a meditar diariamente, e fui adquirindo uma paz interior que nunca conhecera. O tema que mais me atraí­a era o do perdão. Perdoar, desapegar-se dos ressentimentos, compreender que aqueles que nos fizeram sofrer na maioria das vezes não tinham consciência disso e reproduziam apenas algo de que tinham sido ví­timas.
Então papai foi acometido do mal de Parkinson. Em pouco tempo, o homem cheio de vida, inteligente, o deus atlético da minha infância se transformou num velhinho cambaleante, desolado e confuso. Talvez essa sua vulnerabilidade tenha evidenciado os aspectos frágeis de sua personalidade. O fato é que tornou-se mais fácil para mim perdoá-lo.
E assim eu fiz. Apenas disse várias vezes em voz alta: "Eu perdôo você, papai." A mágoa foi se dissolvendo e deixando fluir o amor que eu sentia por ele. Consegui ir me livrando das imposições e exigências que já não vinham dos meus pais, mas de mim mesma. Tomei posse do meu ser, do meu próprio desejo, dos meus sentimentos, e tudo isso me trouxe muita paz.
Jamais disse explicitamente a meu pai que o havia perdoado, mas isso deve ter ficado claro para ele em algum ní­vel, porque toda a nossa relação se transformou.
No verão anterior à sua morte, papai veio sozinho ficar conosco por duas semanas. Eu o recebi com tranqüilidade, sem os preparativos e a tensão das outras vezes. Senti-o como um amigo com quem foi bom conversar de coração aberto, falando de mim e ouvindo-o contar sua vida.
Pela primeira vez em nossas vidas tivemos gestos de carinho um com o outro e ele me disse como se sentia à vontade em nossa casa, como era bonito o meu jardim florido. Na hora de se despedir, meu pai me abraçou forte, beijou minha testa e disse algo que nunca dissera antes: "Minha filha, eu te amo muito."
Meu pai nunca mais voltou à minha casa. Depois que ele morreu, minha mãe mandou fazer um ví­deo, com fundo musical e tudo, com as passagens mais gloriosas de sua vida. Levanto os olhos do que estou escrevendo e vejo a fita cassete na prateleira de livros. Jamais assisti ao ví­deo. O essencial de minha vida com meu pai se concentrou naquelas duas semanas. As lembranças que quero guardar são de papai na varanda, na cadeira de vime, banhado pelos raios de sol, regando as plantas, brincando, conversando, partilhando a vida conosco - e me amando.
O perdão total e incondicional trouxe conforto para minha alma e me abriu as portas para uma vida que eu não imaginava possí­vel.
Agora, além de ser esposa, mãe, avó e conselheira espiritual, sou uma pessoa inteira trezentos e sessenta e cinco dias do ano.
(Rosemarie Giessinger)

Me ressenti do poder dos meus pais de me fazer sentir uma pessoa menor, incapaz, controlando minha vida, meus atos, meus amigos, namorados... Por isso o estresse quando minha mãe resolveu vir me ajudar. Mas essa semana conversamos muito. Procurei ter a paciência que o Hélio me pediu pra ter com ela. Ficávamos sentadas no sofá, ela com a mão na minha barriga, sentindo a neta se mexer, coisa que eu pensava que jamais pudesse acontecer. Não consigo parar de chorar. Apesar de nunca ter coragem de dizer isso a eles, entendi que amo meus pais. Como posso reclamar deles se eu também faço somente aquilo que quero?
Me lembrei de quando era criança e ficava doente. Minha mãe deixava eu ficar o dia inteiro na cama, me trazia comida, bebida e os remédios. Quando eu tomava injeção, fazia compressas quentes pra passar a dor. Me lembrei de tantas coisas que eles fizeram por mim, mas esses anos todos cultivei apenas o ressentimento. Quis voltar a ser a filha mimada que eu fui.
Não sei como será a estada da minha mãe aqui, mas espero que continuemos a nos entender cada vez mais. Creio não ser tarde para isso.
*Acabei mandando um e-mail pra Miriam escrevendo como estou me sentindo. Precisava falar com alguém, não estava mais agüentando guardar tantas mágoas. Estou gerando uma nova vida dentro de mim, é hora de começar uma nova vida pra mim também.

Aí embaixo um vídeo da minha barriga vista de cima. É a visão que eu tenho. :p Olha só como se mexe... Dói tanto meu Deus...

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